Vinte e cinco de março de 2017. Sábado, São Bernardo do Campo, ouvindo The Knife, Heartbeats.
A vontade de gritar com alguém dizendo "Essa vida não é completamente maluca??!" é enorme. Uma taça de vinho com Heineken, S-ã-o B-e-r-n-a-r-d-o. Em menos de três anos eu fui pra Patagônia, pro Uruguay, Dinamarca, quem diria, Dinamarca, Itália e o caralho a quatro. Perdi a conta, literalmente, de todos os lugares onde estive. Esfolei a vida viajante até me cansar. Esgotei-me de tanto encanto.
E aqui estou.
Em São Bernardo.
Foi como chapar com alguma droga pela primeira vez. A cabeça dá voltas e voltas, milhões de coisas acontecem e,
de repente você está sóbria.
Mas não é a mesma.
Sabe que não é a mesma. Apesar de tudo ser igual.
Você cresceu, ficou mais forte. Ficou mais sensível.
Foi como viver um livro do Murakami, ou do García Marquez. O mundo em suas mãos, tanto poder, para que mesmo?
Aquele carequinha sábio que te contou que todo momento vazio era um momento lindo de criação. As lembranças são tão surreais que nem parece suas, parecem tiradas de algum filme cult que você assistiu na sua época adolescente.
A solidão dói pra caralho, mas como qualquer outra tristeza, tu sabe que é tão passageira como a alegria.
Menina, tu virou um brutamontes. Uma explosão de sentimentos, de vivências, de histórias pra se contar. Vai com força.
Besteira qualquer
sábado, 25 de março de 2017
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Lindenbaum
I
Te encontro em uma bifurcação de estradas. Nas suas costas, um paredão de montanhas com curvas atraentes. Aquele frio que só a região andina permite: congela mãos e orelhas, te faz sentir mais vivo. Caminhamos por um caminho estreito, ora eu atrás de você, ora você atrás de mim. Poucas vezes caminhamos juntos, minha mirada em direção ao chão. Conversamos trivialidades, ainda que ambos sabemos que uma análise intensa de nossas personalidades está em jogo. Na verdade queria te perguntar: O que te faz sentir vivo? Você também vive todos os dias se distraindo de inseguranças e evitando momentos importantes? O que é coragem pra você? Será que eu sou agradável pra você como você é para mim?
Nosso encontro acaba antes do que eu esperava e me custa entender o que aconteceu. Ao mesmo tempo, me sinto livre de pressões e isso te torna encantador. Quanto disso é você, quanto disso sou eu?
II
Vou ao cinema sozinha. Ignorei sua existência por vários dias, e entre 600 poltronas, você se senta justamente atrás de mim. Claro que tinha te visto entrar, mas fiz que não. Ironias da vida. Você até decide me cumprimentar. Te convido para uma cerveja? Melhor outro dia. Desculpa, não quero que carregues o peso das minhas expectativas.
III
Festa, fumaça, batuques. Essa banda que mistura Tame Impala com Devendra Banhart. Gosto. Mas já não tenho tanto saco para gritar quando quero conversar. Também não quero parecer ser o que não sou. Não sei dançar, por que não vamos para um lugar onde podemos falar de assuntos metafísicos? O show está bom, mas não estou interessada no show agora. Quantos litros de cerveja para... obrigada por elogiar meu cabelo, ainda que soe mecânico. Entendi a mensagem de que eu te agrado.
Me apaixono no momento que me encontro com a sua estante de livros. É um ato erótico passar os dedos pelos seus títulos. Uau, você ainda tem CDs.
Você tocando teclado nas minhas coxas. Quanta doçura na luz que atravessa suas cortinas Made in Finland e cai direto nas suas costas nuas. Quero te abraçar pelas próximas quarenta horas. Uma pena que seja domingo e você está ocupado com o mundo e não comigo.
IV
Gosto de te ver dançando aí em cima, um impulso que te sai de um momento para outro. Devo te contar que apesar da distância consigo perceber que você está me olhando. Que flerte timidamente deleitoso. Estou quase implorando para que deixes um pouco de espaço para eu me despir completamente.
Um chá verde. Um programa de rádio. Seu senso de humor irônico me causa prazer, também. Será que é por que acabo de te conhecer? Será que, se fossemos obrigados a conviver em outras condições, gostaria tanto do seu silêncio? Posso te escrever uma carta contando como esses dias que passo com você me fazem bem?
Meu deus, seus braços sob meu corpo. A voz do Sufjan Steven completa esse buraco gigante que é meu peito e sinto meu corpo vibrando. Suas paredes me engolem. Tenho que me despedir mas já quero voltar.
V
Eu dividiria minha solidão todos os dias com alguém que me faz massa caseira com cogumelos. Fio por fio, cogumelos cuidadosamente cortados pela faca afiada. Esse vinho me faz querer grudar no seu corpo e te afogar de mim. Agora eu vou te perguntar: vai sentir minha falta quando eu for embora? Esses dias curtos foram maravilhosos para você como foram para mim? Qual caminho eu tomo pra te atingir direto por dentro? Você aceita me amar eternamente nas minhas condições itinerantes? Não, vamos ver esse desenho animado freak e aproveitar esse último momento dissimulando que não estou fervendo por todos os poros.
Odeio seu despertador. O Murakami não me respondeu. Algumas horas atrás, você deitou sob meu peito e tive a impressão de que tentava escutar meu coração. Será que você busca as mesmas respostas que eu? Estamos mesmo tão conectados ou é coisa de momento? Esse instante é tudo que temos. Eu escreveria em vermelho nas suas paredes que sou capaz de te amar até o último dia da minha vida. Lide com essa intensidade que você provocou.
VI
Tudo termina com uma despedida frouxa e um riso nervoso da sua parte. Minha imaginação corre ridiculamente pelos filmes do James Cameron onde um impulso de coragem resgata uma idéia já fadada ao fracasso. Mas esse encontro tá muito mais para filme do Angelopoulos do que eu posso controlar. Deixemos tudo para depois, talvez em alguma realidade paralela eu posso acordar todos os dias com seus cabelos ruivos preenchendo a minha primeira visão do dia. Talvez essa incerteza é o que te torna tão irresistível.
Te encontro em uma bifurcação de estradas. Nas suas costas, um paredão de montanhas com curvas atraentes. Aquele frio que só a região andina permite: congela mãos e orelhas, te faz sentir mais vivo. Caminhamos por um caminho estreito, ora eu atrás de você, ora você atrás de mim. Poucas vezes caminhamos juntos, minha mirada em direção ao chão. Conversamos trivialidades, ainda que ambos sabemos que uma análise intensa de nossas personalidades está em jogo. Na verdade queria te perguntar: O que te faz sentir vivo? Você também vive todos os dias se distraindo de inseguranças e evitando momentos importantes? O que é coragem pra você? Será que eu sou agradável pra você como você é para mim?
Nosso encontro acaba antes do que eu esperava e me custa entender o que aconteceu. Ao mesmo tempo, me sinto livre de pressões e isso te torna encantador. Quanto disso é você, quanto disso sou eu?
II
Vou ao cinema sozinha. Ignorei sua existência por vários dias, e entre 600 poltronas, você se senta justamente atrás de mim. Claro que tinha te visto entrar, mas fiz que não. Ironias da vida. Você até decide me cumprimentar. Te convido para uma cerveja? Melhor outro dia. Desculpa, não quero que carregues o peso das minhas expectativas.
III
Festa, fumaça, batuques. Essa banda que mistura Tame Impala com Devendra Banhart. Gosto. Mas já não tenho tanto saco para gritar quando quero conversar. Também não quero parecer ser o que não sou. Não sei dançar, por que não vamos para um lugar onde podemos falar de assuntos metafísicos? O show está bom, mas não estou interessada no show agora. Quantos litros de cerveja para... obrigada por elogiar meu cabelo, ainda que soe mecânico. Entendi a mensagem de que eu te agrado.
Me apaixono no momento que me encontro com a sua estante de livros. É um ato erótico passar os dedos pelos seus títulos. Uau, você ainda tem CDs.
Você tocando teclado nas minhas coxas. Quanta doçura na luz que atravessa suas cortinas Made in Finland e cai direto nas suas costas nuas. Quero te abraçar pelas próximas quarenta horas. Uma pena que seja domingo e você está ocupado com o mundo e não comigo.
IV
Gosto de te ver dançando aí em cima, um impulso que te sai de um momento para outro. Devo te contar que apesar da distância consigo perceber que você está me olhando. Que flerte timidamente deleitoso. Estou quase implorando para que deixes um pouco de espaço para eu me despir completamente.
Um chá verde. Um programa de rádio. Seu senso de humor irônico me causa prazer, também. Será que é por que acabo de te conhecer? Será que, se fossemos obrigados a conviver em outras condições, gostaria tanto do seu silêncio? Posso te escrever uma carta contando como esses dias que passo com você me fazem bem?
Meu deus, seus braços sob meu corpo. A voz do Sufjan Steven completa esse buraco gigante que é meu peito e sinto meu corpo vibrando. Suas paredes me engolem. Tenho que me despedir mas já quero voltar.
V
Eu dividiria minha solidão todos os dias com alguém que me faz massa caseira com cogumelos. Fio por fio, cogumelos cuidadosamente cortados pela faca afiada. Esse vinho me faz querer grudar no seu corpo e te afogar de mim. Agora eu vou te perguntar: vai sentir minha falta quando eu for embora? Esses dias curtos foram maravilhosos para você como foram para mim? Qual caminho eu tomo pra te atingir direto por dentro? Você aceita me amar eternamente nas minhas condições itinerantes? Não, vamos ver esse desenho animado freak e aproveitar esse último momento dissimulando que não estou fervendo por todos os poros.
Odeio seu despertador. O Murakami não me respondeu. Algumas horas atrás, você deitou sob meu peito e tive a impressão de que tentava escutar meu coração. Será que você busca as mesmas respostas que eu? Estamos mesmo tão conectados ou é coisa de momento? Esse instante é tudo que temos. Eu escreveria em vermelho nas suas paredes que sou capaz de te amar até o último dia da minha vida. Lide com essa intensidade que você provocou.
VI
Tudo termina com uma despedida frouxa e um riso nervoso da sua parte. Minha imaginação corre ridiculamente pelos filmes do James Cameron onde um impulso de coragem resgata uma idéia já fadada ao fracasso. Mas esse encontro tá muito mais para filme do Angelopoulos do que eu posso controlar. Deixemos tudo para depois, talvez em alguma realidade paralela eu posso acordar todos os dias com seus cabelos ruivos preenchendo a minha primeira visão do dia. Talvez essa incerteza é o que te torna tão irresistível.
domingo, 24 de agosto de 2014
Sobre nosso dom de se meter em confusão
- O momento é ótimo para colocar os pingos nos "i"s, diz no meu horóscopo.
- Aí, aproveita.
Estavamos sentados nessas mesas de alumínio com propaganda de cerveja. Meu olhar ia do jornal para o mato espesso da Reserva, ziguezagueando meio ansioso. Era um dia quente e úmido, como costumava ser em Buenos Aires, céu azul e sem nuvens.
- Tem algo sádico em ler horóscopo, pelo menos da minha parte. Sempre leio com ironia. Até tento levar a sério, mas é impossível. Colocar pingos nos "i"s. Como pode ser um bom momento pra isso? Se os "i"s ficaram sem pingos, é porque nunca é um momento agradável pingá-los. Entende o que eu quero dizer?
- Sim. É, acho que a idéia é mais... te dar uma idéia do que fazer no dia. É coisa de gente desocupada que não tem o que fazer.
Fiquei encarando-o esperando mais filosofias baratas. Ele não estava muito interessado. Respirei fundo, fechei o jornal, encarei o horizonte largo da Reserva. Gostava de olhar as árvores distantes que se pareciam com brócolis daquela distância. Houve um momento de silêncio e eu quis puxar mais assunto.
- Colocar pingos nos "i"s. Sabe o que eu acho que eu deveria fazer? Deveria parar de ouvir música por um tempo. - Ele me olhou assustado esbugalhando os olhos na minha direção, como se eu estivesse falando algo realmente incompreensível e imperdoável. Me adiantei em me explicar. - Você sabe, pra esquecer tudo isso. Não sei, tenho a impressão de que é tudo culpa das músicas. Tem sido um martírio escutar as músicas dele, e eu não consigo me concentrar em outra coisa que não o evoque. Talvez se eu parasse de escutar, ficaria mais racional, menos idiota. Quero provar. - acendi um cigarro.
- Tanto assim você gosta dele? Pensei que fosse mais uma das suas paixões efêmeras.
- E é. Justamente estou tratando de fazê-lo evaporar.
Encaramos as árvores outra vez. O ar quente e úmido dava uma impressão mais pesada para a conversa. Provavelmente iria chover, à noite, no domingo. Era como se estivessemos agarrados em um líquido grosso e espesso que nos impedia de ser leves e fluídos. Ele olhou de canto de olho pra mim, eu sorri.
- Onde nos metemos hein?
- Somos bons em se meter em confusão.
Levantei e me espreguicei. Pessoas passavam correndo, de bicicleta, conversando animadamente umas com as outras. Crianças, cachorros, famílias inteiras. Ninguém via a gente.
- Acho que seria uma bosta se eu tivesse vivendo isso sozinha. Estar metida nessa novela mexicana com você faz tudo parecer menos dramático, menos horrível. O dia que você quis ir embora foi horrível, me senti gosmenta. Mas aí você voltou, e ficou tudo bem. Quero dizer, nada está resolvido, mas o fato de você estar por perto fazem as coisas serem melhores. Que bom que a gente tem amigos nessa vida, mano.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
Rascunho de um desencontro
Por centenas de dias, ela esperou. Como guardas de rua
desastrados, loucos para chegar logo o outro dia, loucos para chegar o
fim da semana, loucos para que algo aconteça nas suas tristes vidas de
guardiões. E o mais curioso, ela não era do tipo que espera. Toda sua
vida foi aquela pessoa inconsequente que age sem pensar e passa boa
parte do resto da vida consertando erros por aí, remendando vidros
rotos.
Ela esperou, mas não houve nenhuma reação. Não da parte
dele, e dentro da cabeça dela ela armou dezenas de explicações para si
mesma, todas culpando a si mesma. quinta-feira, 26 de junho de 2014
Todos esses prédios cobrindo o céu
São quase uma da manhã, amanhã acordo as cinco. Vivo nesse desespero de parecer que o tempo não é suficiente para cumprir nada. Passo a maior parte dele divagando sobre como as coisas são, isso de uns seis meses para cá. É uma sensação de que é necessário mudança. Fase passageira. Qualquer hora a vida para em mais um semáforo, mas nesse momento exato, é como se estivesse em uma estrada de terra, que eu não sei onde vai dar.
Sinto falta de alguém que me entenda por completo. Alguém para entregar minhas divagações e ao invés de analisá-las e postular seus pontos críticos e as fraquezas dos meus argumentos, assente como quem entende o que eu quero dizer. Se identifica. Tá cada vez mais difícil se identificar. E também se expressar. Meu português já não é o mesmo, mistura com o espanhol que é bem confuso. Além dos meus pensamentos em inglês que não consigo traduzir. Como será que os poliglotas pensam?
Uma hora atrás eu terminei de ler Minha querida Sputnik. O livro veio à mim do Brasil, na mochila de um amigo que o estava lendo e acabou deixando comigo. Escreveu: " para minha própria Sputnik oriental, que por um breve instante encontrei do outro lado do espelho tela". Não sei muito bem o que ele quis dizer com isso. Não sei se teve pretensão de, realmente, dizer alguma coisa.
O livro foi uma sacudida. Ultimamente tem sido assim. Os livros, os filmes, as músicas me sacodem, me dão calafrios, me deixam aérea por horas. Desde muito isso não acontecia. É como se o a realidade fosse um adesivo pegado ao corpo e mente, mas a cola ficou gasta e a gente tenta forçar um pouco a cola, mas não cola do mesmo jeito.
Penso muito na Bia e no que ela é para mim. Ontem ela me escreveu dizendo que está vendendo todas as suas coisas em São Carlos para vir pra cá. Me dá frio na barriga, ter a Bia por perto é certeza de que algo vai acontecer. Perto da Bia eu me sinto meio covarde, mas isso é outra história que fica para depois.
Penso muito na Bia e na idéia de ir para as montanhas. A primeira vez que isso me ocorreu foi uma hiperbole que saiu, mas que o tempo foi dando sentido. Eu sei que eu não conseguiria ficar aí isolada de tudo e todos por muito tempo. Mas que viria a calhar estar longe de tantas engrenagens por um tempo, viria. Cada dia que passa faz mais sentido, e eu sinto já como um impulso que deve ser cumprido. Vai chegar um momento onde eu não vou ter mais escolha: vou deixar meus livros, meu emprego, minha faculdade e me despegar dessa realidade. A cola já não está funcionando.
É como se, ao colocar o despertador toda noite para as cinco da manhã, eu estivesse me programando para algo totalmente raso, hipocrita e vazio. A rotina é tão desprovida de significado que me dá vontade de sair rasgando tudo.
Parece que estou dentro de uma idiossincrasia e por mais que tente explicar as outras pessoas do que se trata, não consigo. Mais frustração acontece.
Todos esses prédios cobrindo o céu. Andar em túneis de concreto e ferro, participar de burocracias massacradoras. Como que isso faz sentido pra vocês?
As vezes eu acho que é tudo culpa da minha infância fora do comum e do meu constante questionamento desde criança de como as coisas mais óbvias funcionam. Mas isso acontece com tanta gente, e quando chega a idade adulta, passam a entender e vivem em sociedade felizes em contentes. Onde elas encontraram significado?
Outra vez, eu não me acho melhor que ninguém nem muito menos que eu estou certa. Essa é minha ótica de tudo isso. Eu tento escrever em uma tentativa de organizar as minhas idéias, quase sempre não funciona como organização, mas o registro serve para algo.
Sinto falta de alguém que me entenda por completo. Alguém para entregar minhas divagações e ao invés de analisá-las e postular seus pontos críticos e as fraquezas dos meus argumentos, assente como quem entende o que eu quero dizer. Se identifica. Tá cada vez mais difícil se identificar. E também se expressar. Meu português já não é o mesmo, mistura com o espanhol que é bem confuso. Além dos meus pensamentos em inglês que não consigo traduzir. Como será que os poliglotas pensam?
Uma hora atrás eu terminei de ler Minha querida Sputnik. O livro veio à mim do Brasil, na mochila de um amigo que o estava lendo e acabou deixando comigo. Escreveu: " para minha própria Sputnik oriental, que por um breve instante encontrei do outro lado do espelho tela". Não sei muito bem o que ele quis dizer com isso. Não sei se teve pretensão de, realmente, dizer alguma coisa.
O livro foi uma sacudida. Ultimamente tem sido assim. Os livros, os filmes, as músicas me sacodem, me dão calafrios, me deixam aérea por horas. Desde muito isso não acontecia. É como se o a realidade fosse um adesivo pegado ao corpo e mente, mas a cola ficou gasta e a gente tenta forçar um pouco a cola, mas não cola do mesmo jeito.
Penso muito na Bia e no que ela é para mim. Ontem ela me escreveu dizendo que está vendendo todas as suas coisas em São Carlos para vir pra cá. Me dá frio na barriga, ter a Bia por perto é certeza de que algo vai acontecer. Perto da Bia eu me sinto meio covarde, mas isso é outra história que fica para depois.
Penso muito na Bia e na idéia de ir para as montanhas. A primeira vez que isso me ocorreu foi uma hiperbole que saiu, mas que o tempo foi dando sentido. Eu sei que eu não conseguiria ficar aí isolada de tudo e todos por muito tempo. Mas que viria a calhar estar longe de tantas engrenagens por um tempo, viria. Cada dia que passa faz mais sentido, e eu sinto já como um impulso que deve ser cumprido. Vai chegar um momento onde eu não vou ter mais escolha: vou deixar meus livros, meu emprego, minha faculdade e me despegar dessa realidade. A cola já não está funcionando.
É como se, ao colocar o despertador toda noite para as cinco da manhã, eu estivesse me programando para algo totalmente raso, hipocrita e vazio. A rotina é tão desprovida de significado que me dá vontade de sair rasgando tudo.
Parece que estou dentro de uma idiossincrasia e por mais que tente explicar as outras pessoas do que se trata, não consigo. Mais frustração acontece.
Todos esses prédios cobrindo o céu. Andar em túneis de concreto e ferro, participar de burocracias massacradoras. Como que isso faz sentido pra vocês?
As vezes eu acho que é tudo culpa da minha infância fora do comum e do meu constante questionamento desde criança de como as coisas mais óbvias funcionam. Mas isso acontece com tanta gente, e quando chega a idade adulta, passam a entender e vivem em sociedade felizes em contentes. Onde elas encontraram significado?
Outra vez, eu não me acho melhor que ninguém nem muito menos que eu estou certa. Essa é minha ótica de tudo isso. Eu tento escrever em uma tentativa de organizar as minhas idéias, quase sempre não funciona como organização, mas o registro serve para algo.
domingo, 8 de junho de 2014
7 filmes que eu recomendaria para qualquer pessoa
Seja lá quem você for, não importa seu grau de cinefilia, você tem que gostar desses.
Fiz essa seleção pensando nas pessoas que me pedem recomendações de filmes e eu sempre acabo recomendando um que vi recentemente, mas esses são os que todos precisam ver. Não vou falar muito sobre eles, é buscar e assistir. Lembrando que é sempre melhor ver no cinema, amiguinhos. Se aparece em uma mostra por aí, não percam.
Uma vez um professor disse em aula que o cinema nos engrandece como seres humanos. Desde então, entre os créditos de um filme e outro, lembro dele e concordo sem pestanjear.
1. Ladrões de bicicleta - Vittorio de Sica
Esse e Umberto D. do mesmo diretor.
Fiz essa seleção pensando nas pessoas que me pedem recomendações de filmes e eu sempre acabo recomendando um que vi recentemente, mas esses são os que todos precisam ver. Não vou falar muito sobre eles, é buscar e assistir. Lembrando que é sempre melhor ver no cinema, amiguinhos. Se aparece em uma mostra por aí, não percam.
Uma vez um professor disse em aula que o cinema nos engrandece como seres humanos. Desde então, entre os créditos de um filme e outro, lembro dele e concordo sem pestanjear.
1. Ladrões de bicicleta - Vittorio de Sica
Esse e Umberto D. do mesmo diretor.
O clichê de todos os estudantes de cinema.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Sobre monogamia e frustrações
Eu gosto da idéia de acordar do lado de alguém que não liga se eu estou com a cara toda amassada e inchada de sono, e sim contente pelo fato de acordar do meu lado. Gosto de me relacionar com alguém e chegar em um ponto onde eu sei todos os seus passos, sua maneira de pensar, qual restaurante ela vai querer comer e o que ela vai pedir. Sou uma fã incondicionavel da intimidade.
Porém meus amigos mais intimos sabem que eu não concordo com a monogamia. Eu entendo e tento ao máximo respeitas as monogamias alheias, mas não entra na minha cabeça que algo tão espontâneo como gostar de alguém (por gostar entenda-se: admirar, sentir atração física, atração intelectual, querer ter uma pessoa do seu lado na vida, querer algúem.) possa acontecer uma só vez na vida e, no caso de mais de uma vez, sucessivas (entenda-se: tenho um relacionamento x. Meu relacionamento x acaba e, curiosamente, eu começo o z). Confessem, não é assim na prática. E digo na prática mesmo, porque na teoria, é uma verdadeira aberração. Esse mundo tá de ponta-cabeça em tantos sentidos e esse para mim é um dos mais óbvios. Ninguém ama uma só vez. Ninguém ama uma pessoa só. E mais do que tudo, ninguém é de ninguém.
Sem sombras de dúvida, sinceridade é fundamental. Não consigo ver uma intimidade se desenvolvendo sem confiança, e para que isso aconteça, é necessário a sinceridade. E tem coisa mais legal do que ter uma pessoa com quem você pode ser sincera sobre tudo? Eu não consigo encontrar nada no mundo que seja mais legal do que sentar com essas poucas pessoas que a vida entrega pra gente onde você pode sentar e tirar todas as armaduras, todas as máscaras e se expor sem medo de ser rejeitado.
Nisso tudo, eu comparo muito as relações amigos/as-namorados/as. Por que meus amigos podem ter outros amigos e seus respectivos namorados, maridos, casos e a pessoa que está comigo no momento não? Digo, existem pessoas que sentem ciúmes dos amigos do namorado, sério mesmo que vocês concordam com isso? Sério que meus amigos podem compartilhar suas existências (essa expêriencia de viver gente! Por que estamos aqui se não para experimentar?) com outras pessoas mas meu namorado não? Todo mundo já deve ter se questionado já sobre a bizarrice disso, não? E por que a gente continua concordando com isso? Eu chamo de protocolos sociais, estamos condicionados a viver em uma sociedade onde o bonito e o certo é ter um amor medieval, e vamos nos frustrar por isso, invariavelmente, e também vamos aceitar nossas frustrações porque é assim que fizeram nossos pais, avós e bisavós. E morreremos frustrados, carregando frustrações por gerações e mais gerações.
Eu não estou propondo um bacanal mundial, não é isso. Na verdade é bem longe disso. Eu só gostaria que as pessoas se permitissem mais. Fossem, por mais paradoxal que possa ser, mais racionais em relação aos seus instintos. Tudo isso em busca daquele momento onde você vai poder estar com uma pessoa e poder tirar todas as armaduras e ser você mesmo.
Meu último relacionamento acabou porque não existia confiança dele para mim. E eu sempre soube, e tentei lidar com isso o máximo que pude, porque eu realmente gostava dele. Mas houve um momento onde tudo isso que eu escrevo foi notado por ele e ele perdeu totalmente a confiança em mim só pela idéia de eu não ser só dele. Só pela idéia mesmo, porque o meu medo de me interessar por outra pessoa e perdê-lo era tão grande que eu abdiquei de muitas coisas eliminando possibilidades de errar me interessando por alguém que não fosse ele. Resultado: duas frustrações. Por um lado, ele entrava em pânico em ambientes onde existiam outras pessoas além de mim e ele, e por outro, eu vendo tantas pessoas legais passando sem poder fazer nada. E não só as novas: deixei muitos amigos de lado. O bom é que com os nossos amigos não tem protocolo social, então quando tudo isso acabou vi que todos eles ainda estavam do meu lado.
As pessoas me olham torto e fazem careta quando eu falo disso. Talvez você que esteja lendo nesse momento deve estar fazendo uma cara assim. Eu não sigo isso à risca e não sou uma pregadora do amor livre, não seria capaz. Mas acho que se questionar e tentar algo diferente são duas coisas essenciais para, talvez num futuro distante, um amor autêntico possa existir. Um ou vários. Só não queria chegar aos meus sessenta anos e me encontrar sentada no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar.
Nota muito importante: eu não acho que minha maneira de pensar seja a certa. Eu inclusive cito meu último relacionamento porque eu tentei mostrar pra mim que poderia ser de outro jeito. Tampouco acho que minhas experiências sejam válidas para todo mundo, isso tudo é só sobre mim mesma.
Porém meus amigos mais intimos sabem que eu não concordo com a monogamia. Eu entendo e tento ao máximo respeitas as monogamias alheias, mas não entra na minha cabeça que algo tão espontâneo como gostar de alguém (por gostar entenda-se: admirar, sentir atração física, atração intelectual, querer ter uma pessoa do seu lado na vida, querer algúem.) possa acontecer uma só vez na vida e, no caso de mais de uma vez, sucessivas (entenda-se: tenho um relacionamento x. Meu relacionamento x acaba e, curiosamente, eu começo o z). Confessem, não é assim na prática. E digo na prática mesmo, porque na teoria, é uma verdadeira aberração. Esse mundo tá de ponta-cabeça em tantos sentidos e esse para mim é um dos mais óbvios. Ninguém ama uma só vez. Ninguém ama uma pessoa só. E mais do que tudo, ninguém é de ninguém.
Sem sombras de dúvida, sinceridade é fundamental. Não consigo ver uma intimidade se desenvolvendo sem confiança, e para que isso aconteça, é necessário a sinceridade. E tem coisa mais legal do que ter uma pessoa com quem você pode ser sincera sobre tudo? Eu não consigo encontrar nada no mundo que seja mais legal do que sentar com essas poucas pessoas que a vida entrega pra gente onde você pode sentar e tirar todas as armaduras, todas as máscaras e se expor sem medo de ser rejeitado.
Nisso tudo, eu comparo muito as relações amigos/as-namorados/as. Por que meus amigos podem ter outros amigos e seus respectivos namorados, maridos, casos e a pessoa que está comigo no momento não? Digo, existem pessoas que sentem ciúmes dos amigos do namorado, sério mesmo que vocês concordam com isso? Sério que meus amigos podem compartilhar suas existências (essa expêriencia de viver gente! Por que estamos aqui se não para experimentar?) com outras pessoas mas meu namorado não? Todo mundo já deve ter se questionado já sobre a bizarrice disso, não? E por que a gente continua concordando com isso? Eu chamo de protocolos sociais, estamos condicionados a viver em uma sociedade onde o bonito e o certo é ter um amor medieval, e vamos nos frustrar por isso, invariavelmente, e também vamos aceitar nossas frustrações porque é assim que fizeram nossos pais, avós e bisavós. E morreremos frustrados, carregando frustrações por gerações e mais gerações.
Eu não estou propondo um bacanal mundial, não é isso. Na verdade é bem longe disso. Eu só gostaria que as pessoas se permitissem mais. Fossem, por mais paradoxal que possa ser, mais racionais em relação aos seus instintos. Tudo isso em busca daquele momento onde você vai poder estar com uma pessoa e poder tirar todas as armaduras e ser você mesmo.
Meu último relacionamento acabou porque não existia confiança dele para mim. E eu sempre soube, e tentei lidar com isso o máximo que pude, porque eu realmente gostava dele. Mas houve um momento onde tudo isso que eu escrevo foi notado por ele e ele perdeu totalmente a confiança em mim só pela idéia de eu não ser só dele. Só pela idéia mesmo, porque o meu medo de me interessar por outra pessoa e perdê-lo era tão grande que eu abdiquei de muitas coisas eliminando possibilidades de errar me interessando por alguém que não fosse ele. Resultado: duas frustrações. Por um lado, ele entrava em pânico em ambientes onde existiam outras pessoas além de mim e ele, e por outro, eu vendo tantas pessoas legais passando sem poder fazer nada. E não só as novas: deixei muitos amigos de lado. O bom é que com os nossos amigos não tem protocolo social, então quando tudo isso acabou vi que todos eles ainda estavam do meu lado.
As pessoas me olham torto e fazem careta quando eu falo disso. Talvez você que esteja lendo nesse momento deve estar fazendo uma cara assim. Eu não sigo isso à risca e não sou uma pregadora do amor livre, não seria capaz. Mas acho que se questionar e tentar algo diferente são duas coisas essenciais para, talvez num futuro distante, um amor autêntico possa existir. Um ou vários. Só não queria chegar aos meus sessenta anos e me encontrar sentada no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar.
Nota muito importante: eu não acho que minha maneira de pensar seja a certa. Eu inclusive cito meu último relacionamento porque eu tentei mostrar pra mim que poderia ser de outro jeito. Tampouco acho que minhas experiências sejam válidas para todo mundo, isso tudo é só sobre mim mesma.
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