Passo, passo, passo. Pés frios no chão. Tateava as paredes, atrás da luz.
Encontrou.
Acendeu um cigarro e sentou-se na beira da cama. Pensava sobre a insônia. Queria se queixar, mas não tinha para quem. Não gosta de falar com as paredes, dava um ar de maluco. Pensou em ligar para um amigo, só para descontrair a tensão – deveria estar dormindo, e não estar gerava certa culpa - mas o relógio não permitia. O silêncio machucava, pensou em colocar uma música, em escrever um pouco ou procurar um bom livro para insônia. Mas iria terminar o cigarro antes.
Algumas memórias invadiram sua cabeça – foi sem querer- e eram coisas secretas. Coisas que podiam ser terríveis, lembranças que acontecem sem querer. Algo frio incomodava. Algo pesado que estava dentro dele.
Entregou-se de vez: começou a pensar sobre tais memórias. Era quase um crime para ele pensar nessas coisas, machucava. Queria que tivesse sido diferente, mas a culpa não era dele. Era também, talvez pela postura-desamor que era a sua, mas era assim que era, e devia ser aceito desse jeito.
Acabou se perdendo: imagens passando, lembranças vivas, como filmes, passando em sua cabeça. Já não estava sentado no seu quarto, estava sol e era domingo. Angústia. Vontade de ser impulsivo, de esquecer a racionalidade, se não se vigiasse derrubaria uma lagrima. Pensou no telefone mais uma vez. Não seria mal algum. Queria, queria muito, mas estava congelado, de todos os jeitos. Já esquecera o número de telefone, não saberia como dizer alô. Algo se mexia dentro do seu estômago, as mãos foram ficando frias de ansiedade. Afinal, não acordaria tão aleatoriamente e pensaria em algo que já estava mais do que enterrado. E sabia que se ligasse, transcorreria uma conversa normal, nada de mais, seria só um alô. Mas ninguém liga aquela hora da noite para dar um alô, principalmente depois de tanto tempo. Era só pegar o celular, ver o número e ligar... e depois conseguiria dormir tranqüilo, esqueceria aquilo e cumpriria sua rotina no dia seguinte com bom humor, por ter tido uma boa noite de sono.
Uma mão que não parecia a sua, uma mão fria e úmida pegou o celular e ele procurou pelo número. Estava lá. Se pudesse, teria poeira por cima. E discou o número, nem se lembra como. Mal tocou duas vezes,
-Alô?
Como gostava daquela voz.
- Oi.
-... Quem é?
Conversaram por uns três longos minutos, dos quais ele ficou pensando pelas últimas vinte e quatro horas. Não durmira bem, mas se sentia bem. Não tinham conversado nada de mais, ambos ficaram nervosos com a ligação, ambos dissimularam suas sensações, ambos pensaram coisas que não falaram e que se arrependeram muito depois, mas todas essas coisas, ambos haviam entendido também.
“Alimentar alguns impulsos e soltar um pouco o que está contido não é tão ruim assim” – foi o que pensou sem querer, porque não era assim que ele pensava, não era o seu tipo de pensamento.
5 comentários:
Impulso...às vezes é o que alimenta minha vontade de viver intensamente. Outras vezes, é o que me dá vontade de morrer.
idem!
idem (02)
mas impulso, por mais que depois a gente queira se dar um tiro na ca3eça, passa uma sensação de li3erdade tao deliciosa.
"É, vira a página,compra um livro, faz um curso, ocupe seu tempo com algo útil".
A vida impulsiva é vida dos 'artistas da vida', mal se percebe q qnd se faz algo impulsivamente, é o q vc realmente queria fazer, o que não é tão ruim, caso não vivessemos numa sociedade cheia de morais, como o é. Mas o 'real deal' é ligar o [i]whatever[/i] e aproveitar isso tudo. Arrependa-te não pelo que fez, mas pelo que deixou de fazer.
;P
Filipe.
Postar um comentário