quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Uncomfortable


Estava eu sentada em meu banco favorito, em uma praça perto de onde trabalho. Todos quinze minutos que me restam da hora do almoço eu vou até lá e leio um par de páginas de qualquer livro.
Esse dia único, sentou alguém do meu lado.
- Que banco desconfortável. Igual à minha vida.
Marquei o livro com os dedos e virei para ele.
-Como você consegue ler nesse lugar? Digo, é desconfortável, carros passando, e esse sol na cara?!
-Eu gosto desse sol.
-É, talvez o problema seja comigo. Tenho me sentido desconfotável em todos lugares... o tempo todo, como se estivesse no lugar errado, sabe? Nem mesmo com meus amigos, sabe? Eles não entendem mais. Parece que alguma coisa gigantesca mudou. Mal consigo conversar com eles. Assim, do jeito que converso com você.
Ele gesticulava com as mãos violentamente. Só conseguia pensar: ‘Quem é esse cara?’ e ‘ Pareço uma psicóloga?’
-Eu estava no shopping agora mesmo, e eu olhava para as pessoas passando por mim e me senti naquele clipe do ‘The Verve’, sabe? Só que no clipe ele anda na rua. Me senti indo contra a corrente, ninguém ali parecia comigo, e todo mundo ia na direção contrária! Irônico, não?
Ele fez uma pausa longa, pegou uma folha do chão e brincou com ela.
-Mas não sinto como se algo estivesse errado comigo. Mesmo sendo uma pessoa sozinha, eu me dou bem com isso. Gosto do meu emprego, não me sinto deprimido. É como se fosse um quebra cabeça completo, mas tem aquela pecinha que se sobressai, incomodando a visão. Só não é confortável mesmo. Não está faltando nada.
E aí ele olhou para mim, como quem quer um comentário. Meu único comentário era “ Desculpa, não sou psicóloga.”, mas não quis parecer grossa.
-Alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?
-Não. Eu estou bem aqui. É como se o mundo estivesse errado, não eu. O que é uma loucura de se pensar, eu sei. De qualquer jeito, eu só queria falar mesmo. Obrigada.
Levantou-se e foi embora, andando rápido, como se tivesse lembrado de algo importante para fazer.
E de repente eu me senti desconfortável no meu lugar preferido.

4 comentários:

Max Pajé disse...

Eu chamo essas pessoas de carentes anônimos. Eles são meio como pombos, problemas da cidade.

Mauricio disse...

Oi !!!

Anônimo disse...

acho que você deve escrever algo assim que pegar o computador. eu costumava ler aqui, odeio quando lugares enchem de pó. also, it doesn't suit you. :*

Bia disse...

credo, isso aconteceu mesmo???
Eu saía correndo com o banco nas costas