sexta-feira, 28 de junho de 2013

O tempo é mesmo uma coisa louca.

O tempo é mesmo uma coisa louca. As semanas vão passando e de repente já passou meses, e você continua tendo relapsos de lembranças daquela manhã, meio fria, mas quem se importa com o frio quando a batida do coração sai pela boca, o rosto corado, a minha carta na mão dele causando um riso, meio contrangido.
É louco, de repende você se olha no espelho e não sabe mais quem você é. Eu mesma, perdida dentro de mim. Não sei o que estou fazendo aqui, acordando nesse banheiro desconhecido.
O céu cinza me lembra São Bernardo. O céu que tantas vezes me pegou em um momento distraído, gargalhando entre amigos. Deitar na grama e olhar aquele céu branco e pastoso, sem fim.
É louco, você lendo todos esses textos técnicos, milhares de fotocopias pela casa, e aquele raio de sol entra, te desconcentra, te leva para aqueles momentos dourados onde essa mesma luz dourada trouxe um pouquinho de harmonia. Bate até uma vontade de chorar, sem saber porquê, sem razão mesmo.
De repente, muito de repente vem aquela música na cabeça. Quanto tempo faz que esqueci dela? Dois anos, três anos? Tanto tempo passou, tanta coisa aconteceu. Mas é, apesar de todo o rancor, dá vontade de dar um abraço nele, dizer pelo menos obrigada por me mostrar música tão linda, tão delicada. A parte onde eles cantam: cubro meus olhos e consigo te ver. Me passa um filme inteiro pela cabeça em dois segundos. Começo, meio e fim.
Um dia, vou sentir saudades dos dias de hoje. Esses dias portenhos, caminhar por essas ruas retas e planas, escutar esse idioma que não é o meu,  o céu azul fervendo no alto. Ir trabalhar de bicicleta e sentir um vento meio marítimo do rio de La Plata no rosto.
Tenho até medo do que pode me atingir quando voltar a ver uma praia. Já passaram dois anos, nunca foi tanto tempo longe do mar. Só de pensar na areia e no som do mar que vai e vem, vai e vem, o gosto da água de coco, um violão as seis da tarde, só de pensar me causa medo.
As vezes alucino, vejo pessoas que ficaram para trás nas ruas de Buenos Aires, olha só que loucura. Logo hoje pela manhã minha miopia me traiu (essa deve ser a função da miopia), quando te confundi com um cara que estava caminhando em minha direção. O sol ofuscou um pouco o rosto, mas pela silhueta jurava que era você. E ele me olhava, até alucinei um sorriso de reconhecimento. Senti até o sangue pulsando mais rápido, mas seria muito louco se você, caminhando na calçada de casa.
O tempo é muito louco mesmo, me faz acreditar em coisas místicas do tipo acaso, do tipo era para ser, do tipo casual. Eu que virei a maior cética de todos os tempos. E pensar que houve um momento onde eu lia horóscopo todos os dias, rá! É bom que o tempo passe e apague as coisas tão estúpidas que vivemos um dia. E que apague tudo mesmo. Devia até apagar esse raio de sol, o céu cinza, a brisa do mar. É muito humano, e tanta nostalgia me dá vontade de fugir. Eu, que sempre estou fugindo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Saudade arrependida/arrependimento saudoso?

Unknown disse...

Jamais