quarta-feira, 19 de março de 2014

Não tem jeito não, sou nômade.

O Mandu e eu sempre que possível tentamos manter nossos blogs. Depois que a rotina te ataca, fica díficil escrever, pode ser falta de tempo, falta do que falar, falta de vontade ou as três coisas juntas. Aí vai uma tentativa de salvar nossas pequenas almas com sede de um pouco de literatura.

Você me pergunta o que é lar pra mim. Logo eu, que nasci de uma cigana, que conheci quatro cantos do mundo antes de aprender a andar. Minhas memórias de infância se misturam com viagens longas, de caminhão ônibus carro avião a pé, na busca do tal lar. Olha, eu não tenho isso não. Minha casa vai comigo, onde eu vou. Minha casa sou eu mesma, minhas raízes estão espalhadas por todo o globo. Eu sou brasileira, filha de japonês, dizem que tenho avós com raízes indígenas, moro na Argentina e tô pensando em ir pra Berlim. Tenho sangue de todos os povos dentro de mim, tenho nenhuma e várias casas pra ficar. O lar, não entendo bem essa palavra não. Sabe que, essa vida nômade me trouxe várias consequências, já falei tanto sobre isso. Não entendo as pessoas, acho que isso vêm de elas terem o lar e eu não.  Elas falam de tradição, não entendo tradição, não quero entender tradição, eu quis, mas não quis mais depois, me pareceu sem  sentido. Não entendo a liberdade das pessoas, a minha eu gosto, e é aí que a gente briga, é quando a gente fala de liberdade.

Essa coisa de amarrar coleira no pescoço das pessoas, dizer que é minha é meu. Não dá pra entender. Não dá pra entender querer passar toda a vida em uma mesma empresa que te trata como número. Ou querer ser número um de todos os números, é tão chocante pra mim.

 As vezes nem falo pra evitar briga, me chamam de louca quando falo que não quero comprar casa não, quero viajar só. Não quero família, não quero filhos, quero gente sim, quero muita gente, mas não pra chamar de meu minha.
Aí eu fui pro Uruguai, por um pouco mais que três dias, te convidei até, e lá até pareceu lar, a areia, as pampas, os carneirinhos, o horizonte permanente, parecia tanto lar. Será que é assim?

Aí você se explica melhor e me pergunta sobre o sentimento de lar. Sei lá eu, sabe que eu te contei, fui aí pra São Bernardo e nem parecia que tanto tempo tinha passado, pareceu só um fim de semana que a gente não se viu, esse sentimento é o lar, é saber que tenho pra quem voltar e não onde. É aquele lance do laço que te une a sua verdadeira família não ser de sangue, manja?   Desculpa, não tenho lugar, não consigo achar um só. Ou são todos ao mesmo tempo ou não é nenhum.

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