quinta-feira, 26 de junho de 2014

Todos esses prédios cobrindo o céu

São quase uma da manhã, amanhã acordo as cinco. Vivo nesse desespero de parecer que o tempo não é suficiente para cumprir nada. Passo a maior parte dele divagando sobre como as coisas são, isso de uns seis meses para cá. É uma sensação de que é necessário mudança. Fase passageira. Qualquer hora a vida para em mais um semáforo, mas nesse momento exato, é como se estivesse em uma estrada de terra, que eu não sei onde vai dar.
Sinto falta de alguém que me entenda por completo. Alguém para entregar minhas divagações e ao invés de analisá-las e postular seus pontos críticos e as fraquezas dos meus argumentos, assente como quem entende o que eu quero dizer. Se identifica. Tá cada vez mais difícil se identificar. E também se expressar. Meu português já não é o mesmo, mistura com o espanhol que é bem confuso. Além dos meus pensamentos em inglês que não consigo traduzir. Como será que os poliglotas pensam?
Uma hora atrás eu terminei de ler Minha querida Sputnik. O livro veio à mim do Brasil, na mochila de um amigo que o estava lendo e acabou deixando comigo. Escreveu: " para minha própria Sputnik oriental, que por um breve instante encontrei do outro lado do espelho tela". Não sei muito bem o que ele quis dizer com isso. Não sei se teve pretensão de, realmente, dizer alguma coisa.
O livro foi uma sacudida. Ultimamente tem sido assim. Os livros, os filmes, as músicas me sacodem, me dão calafrios, me deixam aérea por horas. Desde muito isso não acontecia. É como se o a realidade fosse um adesivo pegado ao corpo e mente, mas a cola ficou gasta e a gente tenta forçar um pouco a cola, mas não cola do mesmo jeito.
Penso muito na Bia e no que ela é para mim. Ontem ela me escreveu dizendo que está vendendo todas as suas coisas em São Carlos para vir pra cá. Me dá frio na barriga, ter a Bia por perto é certeza de que algo vai acontecer. Perto da Bia eu me sinto meio covarde, mas isso é outra história que fica para depois.
Penso muito na Bia e na idéia de ir para as montanhas. A primeira vez que isso me ocorreu foi uma hiperbole que saiu, mas que o tempo foi dando sentido. Eu sei que eu não conseguiria ficar aí isolada de tudo e todos por muito tempo. Mas que viria a calhar estar longe de tantas engrenagens por um tempo, viria. Cada dia que passa faz mais sentido, e eu sinto já como um impulso que deve ser cumprido. Vai chegar um momento onde eu não vou ter mais escolha: vou deixar meus livros, meu emprego, minha faculdade e me despegar dessa realidade. A cola já não está funcionando.
É como se, ao colocar o despertador toda noite para as cinco da manhã, eu estivesse me programando para algo totalmente raso, hipocrita e vazio. A rotina é tão desprovida de significado que me dá vontade de sair rasgando tudo.
Parece que estou dentro de uma idiossincrasia e por mais que tente explicar as outras pessoas do que se trata, não consigo. Mais frustração acontece.
Todos esses prédios cobrindo o céu. Andar em túneis de concreto e ferro, participar de burocracias massacradoras. Como que isso faz sentido pra vocês?
As vezes eu acho que é tudo culpa da minha infância fora do comum e do meu constante questionamento desde criança de como as coisas mais óbvias funcionam. Mas isso acontece com tanta gente, e quando chega a idade adulta, passam a entender e vivem em sociedade felizes em contentes. Onde elas encontraram significado?
Outra vez, eu não me acho melhor que ninguém nem muito menos que eu estou certa. Essa é minha ótica de tudo isso. Eu tento escrever em uma tentativa de organizar as minhas idéias, quase sempre não funciona como organização, mas o registro serve para algo.
     

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