terça-feira, 20 de novembro de 2012

Estavamos escutando um álbum de José González


Já partiam para a terceira garrafa de vinho. Ela olhava o teto admirada.

- O problema sempre estar em dosar as coisas. Sinceridade de mais me fez parecer uma louca apaixonada, e até pode ser que seja mesmo, mas amanhã já não vai ser mais.
- E por que não parecer louca apaixonada? Se este é o teu momento e teu momento é tudo que você tem.
- Justo, penso o mesmo, mas as pessoas estão tão vidradas em seus futuros e passados que quando alguém no presente se manifesta é dado como louco. É por isso.
- Então os outros que estão errados, e não você. Não existe sinceridade de mais. Existe sinceridade. Fim. Não existe um oitavo de sinceridade, seria mais mentira que verdade.
- Mas minha sinceridade fez ele ir embora. Não era para ele ir embora. Era pra ele ficar. Mas como meu amigo, sabe?
- Como amigo?
- Sim, como amigo, caralho. Qual é o problema em sermos amigos? Eu gosto muito da companhia dele, mas não quero ter que transar com ele só pra ter ele por perto. É um pouco injusto isso. Não consigo fazer amigos desde os quinze anos. Todos só querem sexo, e se não conseguem, vão embora.
- Seus complexos sexuais de novo.
- Tô mentindo? Não me lembro quando foi a última vez quando não transei para manter alguém por perto. Sempre transo pelo momento depois, o do cigarro, ou o de ficarmos olhando um para cara do outro depois que se foi a vergonha. Gosto muito mais desse momento.
- Soa triste.
- Soa real. Eu tô sendo sincera de novo.

Ele olhou a do canto do olho. Ela entende o olhar.

- Também transei com você pra te manter por perto. Talvez você tenha sido o único que entendeu. Todos os outros ficaram cheios de mágoas amorosas. De um amor que não existe, é imaginário.
- Um pouco extremista da sua parte. Você se apaixonou por mim sim, mas é paixão, passa rápido. Assim como a minha por você.
- Pode ser, mas queria saber o que foi isso, sabe? Que te fez ficar mas fez os outros irem embora. São pessoas que queria passar junto o resto da minha vida. Mas elas partem, como se não tivessem nada com isso. Como se não fossem com elas. Nem ao menos justificam.
- Não há o que justificar.
- Como não? Eu estou constantemente me justificando com as pessoas, com medo de mal entendidos.
- Essa é a causa.
- Que faço então, vou embora como se não tivesse dor? Como se ver esses laços tão ternos fosse um hobbie? Ignorando que isso me causa até uma dor física, no peito, bem aqui?
- Não é ignorar. É deixar ser. Não que tenha que deixar as coisas ser. Mas também não dá pra ficar assim, sofrendo sem solução. Tem que erguer a cabeça e seguir em frente.
- Com o coração partido.
- Com o coração partido. A gente nasce com o coração partido.

Um comentário:

Felipe Mandu disse...

Faltou a quarta garrafa de vinho.